O
segundo parágrafo começa retomando a relação entre a produção de vida humana
como aquilo que dá forma cognoscente para o conteúdo ou material do
conhecimento: os fatos. Nesse sentido, e só nesse por enquanto, a teoria
crítica está de acordo com o chamado Idealismo Alemão. Mas o que é Idealismo
Alemão? O verbete da Wikipedia não vai ajudar, então procure em algum bom
dicionário ou vocabulário de filosofia e vamos nos ater ao que Horkheimer vê de
semelhança.
O
Idealismo Alemão opõe um momento dinâmico à veneração dos fatos. Isso significa
que o foco do Idealismo está no movimento e nas transformações de quem percebe
e não nos fatos supostamente estáticos. Essa é uma concepção de conhecimento
bastante diferente da ciência com a qual estamos acostumados. Para exemplificar
essa diferença, Horkheimer cita dois autores idealistas: Kant (1724-1804) e
Fichte (1762-1814).
Kant,
em seu famoso giro copernicano – respondendo ao empirismo de Hume que afirmava
que todo conhecimento vem da experiência e, por consequência, a mente, como um
papel em branco, apenas registra tais efeitos dos objetos nos sentidos –,
afirmava que, na verdade, toda experiência se conforma às categorias perceptivas
humanas. Ou seja, assim como acreditava-se que o sol girava em torno da terra e
Copérnico mostrou que a terra é que gira em torno do sol, o empirismo
acreditava que o conhecimento vem dos objetos, mas Kant demonstrou que os
objetos é que ganham forma de acordo com as categorias cognoscentes humanas.
Isso não significa que só existem objetos na nossa percepção, mas que não temos
como conhecer os objetos por eles mesmos, em si mesmos, mas apenas como eles se
apresentam para nós. Também, para Kant, o conhecimento está atrelado à
liberdade do homem, uma liberdade a ser conquistada, daí o momento dinâmico do
conhecimento e a impossibilidade idealista de uma mera veneração dos fatos e de
conformismo social, que Horkheimer menciona muito rapidamente, pressupondo que
já conhecemos Kant. Assim, com base em Kant, Horkheimer critica a teoria tradicional
em seu método de veneração dos fatos e decorrente conformismo social, baseado
nas noções de que todo conhecimento é moldado pelas categorias perceptivas e
finalidades humanas.
Após
a breve menção a Kant, Horkheimer cita Fichte literalmente. No trecho citado,
Fichte afirma que os processos envolvidos na visão de mundo são os mesmos do
raciocínio matemático, com a diferença de que não tomamos consciência da forma
como construímos nossa visão de mundo. E não tomamos consciência por vivermos
no reino da necessidade e não da liberdade. Ou seja, vamos vivendo e adquirindo
visões de mundo sem refletir sobre elas porque delas dependemos. Até aqui, há
concordância entre a teoria crítica e o Idealismo Alemão, a partir desse ponto,
Horkheimer começará a expor a discordância, o que ficará para nosso próximo
post.