Não exatamente
que eu goste, mas se tornou um hábito inevitável – ainda não sei julgar se bom
ou mau – ler coisas e parar, abandonar, para, sabe-se lá quando, retomar.
Tentador é disfarçar esse hábito com pompas eruditas, chamando-o de “leitura
fragmentária”. Se os autores de aforismos podem escrever por fragmentos, por
que não poderia eu, racionalizando, ler por fragmentos? Mais tentador ainda é
escrever um blog e dar o título
abusado de “fragmentos” a posts que
resultam dessas leituras e das reflexões subsequentes. A verdade, no entanto, é
menos pretensiosa. Certa displicência na leitura e na escrita, unida às diversas
atividades cotidianas e a um sentimento de que é bom publicar alguma coisa por
aqui de vez em quando... essas forças todas tiveram como resultante esse
fragmento que começo a escrever hoje. O risco é eu ser tão indisciplinado que
não faça jus ao plural do título “FRAGMENTOS”!
Ninguém melhor
para estrear os “fragmentos” assistemáticos que o autor contrário a sistemas
por excelência, do qual sei que devo me aproximar, mas confesso sentir um certo
desconforto em nossos encontros: Friedrich Nietzsche (1844-1900). Já li uns
três livros sobre o autor, alguns textos aleatórios e uns dois livros do
próprio, sempre me encantando e desencantando com o tão aclamado Nietzsche.
Dezenas de vezes me prometi um estudo mais disciplinado. Seguindo as impressões
que os especialistas deixaram em mim, defini que deveria começar pelo livro em que
Nietzsche expõe mais claramente suas próprias ideias, tornando-se independente
das influências de Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Richard Wagner
(1813-1883), publicado em 1878, Humano,
demasiado humano.
O subtítulo, “um
livro para espíritos livres”, é bastante sugestivo. No Prólogo, escrito seis anos depois da primeira edição, Nietzsche
esclarece que não existem tais espíritos livres, são uma ficção, quase que
amigos imaginários com os quais ele buscava dialogar enquanto escrevia os
pensamentos que o tomavam de assalto após um longo período de convalescença.
Desejava que esses espíritos livres viessem a existir no futuro, em carne e
osso.
Então a
liberdade é um valor defendido por Nietzsche? Claro que sim! Fala ele na
“grande liberação”. Então Nietzsche não é pessimista? Parece-me que não, também
é ele que vê na grande liberação a cura radical para o pessimismo. Só falta
achar que Nietzsche também defende a justiça... e não é que defende? Ele
demonstra um apreço pelo desenvolvimento da vida e afirma que a injustiça é
maior onde a vida se desenvolveu ao mínimo. Seria a doença uma fraqueza discriminada
pelo autor conhecido como entusiasta da força e possível inspirador do nazismo? Também não, para ele
a doença é um caminho para uma saúde superior. E não é que Nietzsche realmente
tem momentos encantadores?
Em relação a ele é parece que é bom encantar e desencantar...não pareceu pretender ser guru de ninguém, mas provocar mesmo e desconstruir...e isso ele faz. No mais fica por nossa conta, até onde damos conta...eu parei Zaratustra tocentas vezes e não sei de um dia termino. Li Ecce Homo e achei de um narcisismo extremo, além do machismo é claro, mas isso Lou Salomé explica...tem um livro de uma prof. da UFPE, Luzilá, que estudou a vida dela que se chama justo Humana, Demasiado Humana. Li e gostei. Mas isso pode ser feminismo meu...rs
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