Olás,
meus caros espíritos livres, já faz um bom tempo que não nos encontramos por
aqui, não? Pois é, amigos imaginários, após alguns meses me dedicando a um novo
projeto de pesquisa, consegui, enfim, voltar a escrever para o blog. Debrucei-me,
desta vez, sobre o primeiro aforismo de Humano,
demasiado humano. Nele, Nietzsche aborda um tema bastante psicológico:
conceitos e sentimentos. Se fôssemos pensar em uma tradição outra, a freudiana,
chegaríamos a uma analogia interessante aos correspondentes “representação” ou “ideia”
e “afeto”. A semelhança vai além. Já não me recordo mais em que texto, Freud
menciona sua esperança de que a química viesse substituir seu modelo de
aparelho psicológico no futuro da ciência. Nietzsche dá a seu primeiro aforismo
de Humano, demasiado humano o título
de Química dos conceitos e sentimentos.
Por quê?
O
título do primeiro capítulo, que reúne 34 aforismos, talvez nos ajude: Das coisas primeiras e últimas. Trata-se
de uma menção ao pensamento filosófico geral que busca compreender de onde
vieram e para onde vão todas as coisas. Nietzsche inicia seu livro com uma
grande crítica à metafísica. Segundo ele, os problemas filosóficos são os
mesmos desde o começo, tentando compreender de onde se originam os opostos como
racional/irracional, contemplação desinteressada/desejo, etc. A metafísica teria
encontrado uma solução milagrosa para os opostos: as coisas de mais alto valor
têm origem direta da essência. A metafísica, portanto, lida com valores, ou
seja, julgamentos de valor, que se originam de algo para além do mundo físico e
material: a essência. O que vem da essência tem um alto valor, o que não
procede dela, baixo valor.
À
metafísica, Nietzsche opõe a filosofia histórica que, para ele, é a ciência
natural. Estaria ele pensando em termos de evolução biológica darwiniana? Não temos
elementos neste aforismo para tirar alguma conclusão. O que nos interessa aqui
é que ele afirma que a ciência natural, ou filosofia histórica, identificou um
erro da razão na metafísica: não existem opostos, existem sublimações em que o
elemento básico se volatiliza em sentimentos morais, religiosos e estéticos,
também em todas as nossas emoções. O que é esse elemento básico? Como ele se
volatiliza ou sublima em sentimentos e emoções? Para responder a essas
questões, precisaríamos não recorrer a essências metafísicas, mas à observação
aguda, ao método das ciências naturais, uma química das representações e dos
sentimentos. Eis nosso filósofo que nega a metafísica pela explicação materialista
(um elemento básico material), baseada em uma filosofia histórica, mas não na
dialética hegeliana das ciências do Espírito.
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